Millbrook, O mergulho de Tim Leary
Por:Luiz Antônio Domingues
Por:Luiz Antônio Domingues
Em 1962, a relação do professor Timothy Leary com seu empregador, a Universidade de Harvard, atingiu nÃveis insustentáveis.
Em primeiro lugar, foi informado que suas pesquisas estavam sendo investigadas pela CIA. Além disso, internamente, o corpo docente estava farto de receber reclamações de pais de alunos (invariávelmente pessoas proeminentes da sociedade norte-americana e com ligações estreitas com o poder), dando queixa de que seus filhos haviam tomado doses de LSD em sala de aula, como parte dos estudos propostos nas aulas do professor Leary.
Fora isso, havia a suspeita de que muitos outros alunos que não faziam parte do grupo, estavam infiltrando-se para tomar a droga com objetivo recreativo. Cabe lembrar que nessa época, essa substância ainda não era ilegal, portanto, não cabia nenhuma intervenção policial incriminatória no caso.
E a gôta d'água foi uma entrevista que Leary concedeu à revista Playboy, referindo-se irônicamente à substância que pesquisava, como "um poderoso afrodisÃaco". Aproveitando-se de um sumiço de Leary no inÃcio de 1963, a universidade o demitiu e na sua esteira, também ao professor Richard Alpert, igualmente envolvido nas experiências.
Foram ambos para o México, mas foram surpreendidos com uma sumária expulsão do paÃs, um dos inúmeros boicotes que sofreriam dali em diante.
Foi quando surgiu a oportunidade de usarem uma mansão privada para realizarem seus experimentos, chamada "Millbrook House", de propriedade do milionário e mecenas, William Hitchcock.
Ali, Tim Leary e Richard Alpert intensificaram seus estudos e agora já profundamente influenciados em ideias alternativas, mesclando-se à luz da ciência acadêmica. O livro Tibetano dos Mortos habitava o imaginário dos pesquisadores (em 1964, lançaram o livro : "The Psychedelic Experience, criando paralelos entre os dois conceitos).
Leary chegou a declarar anos depois que nesse perÃodo, considerava-se "um verdadeiro antropólogo do século XXI pesquisando em meio à s trevas do século XX".
Extrapolando as fronteiras da psicologia em si, acreditava estar criando ali uma espécie de novo paganismo, através da completa expansão mental.
Muitas pessoas se uniram à experiência de Millbrook, participando das sessões de estudos. Leary comandava experimentos sensoriais os mais diversos, com música; dança; meditação; observações no ambiente externo e em contato com a natureza; observação das estrelas; além de diversos rituais pagãos.
As observações de Tim Leary e Richard Alpert levavam em conta aspectos da fÃsica einsteiniana e quântica, à psicologia; redefinição de palavras (semiótica , incluso), como "neurose" em termos etológicos; relacionamento entre as alterações de espaço-tempo etc.
Segundo contou na sua autobiografia, chamada "Flashbacks", por se tratar de uma pesquisa independente, os recursos eram do próprio bolso dos pesquisadores e de pequenas doações de simpatizantes.
Muitos jornalistas, pesquisadores e artistas simpatizantes, visitaram Millbrook. E também uma constrangedora visita de dois representantes da FDA, a agência norte-americana de controle farmacêutico, onde se comportaram mais como capangas mafiosos fazendo ameaças, mediante bravatas.
E como capÃtulo final nessa estada na mansão de Millbrook, Tim Leary casou-se com a jovem Nanete Leary, numa cerimônia filmada como curta-metragem pelo excelente documentarista D.A. Pennebacker ( Monterey Pop Festival'67, Don't look back , Ziggy Stardust etc). Esse filme recebeu o tÃtulo de "Wedding at Millbrook" (Existe um tÃtulo alternativo, chamado "You're nobody till somebody loves you").
A banda de Miles Davis (Sem a presença do genial trumpetista), fez a trilha sonora da festa e o jazzista superb, Charles Mingus fez um sermão sobre a instituição do matrimônio.
Esse curta-metragem chegou a ser exibido no circuito de cinemas de arte na América e é considerado um documento muito importante da história da contracultura nos anos sessenta.
Dali em diante, Tim Leary seria mitificado pelos hippies, tornando-se o inimigo n°1 do governo Nixon. Angariou muita simpatia de artistas famosos e passou por momentos de sufoco extremo, sendo perseguido e preso.
Mas são outros capÃtulos a serem contados numa outra ocasião...
Obrigado Luiz! Bela e esclarecedora narrativa sobre um ilustre homem à frente de seu tempo e dimensão!
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ResponderExcluirMuito legal Luiz Domingues. Olhando aqui o livro Flashbacks LSD A experiência que abalou o sistema,entre as páginas 247 a 251 que fazem parte do capÃtulo Preso em Laredo, Timothy Leary teve seus problemas aumentados quando resolveu abandonar a mansão e ir para o México, na alfândega de Nueva Laredo, ele foi abordado e um baseado é encontrado com sua filha, Leary assume a culpa e começa sua epopéia de prisões e fugas espetaculares, como a da área noroeste da Colônia Masculina da Califórnia de onde escapou usando a fiação de um poste telefônico.
ResponderExcluirSaudações fraternas
Marcelo Prata