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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bed-in, Lennon incisivo




Por:Luiz Antônio Domingues

Em 1969, o mundo pegava fogo com diversas mudanças sócio-políticas e comportamentais em curso.
O movimento Hippie ganhando mais e mais adeptos, com desobediência civil à vista, preocupava e muito os governos dos principais países do mundo. Protestos contra a guerra do Vietnã; direitos das mulheres na sociedade e contra o segregacionismo racial, estavam na pauta das reivindicações principais, mas a verdade é que muitas outras coisas estavam em jogo.

Famoso por ser componente da maior banda de Rock do planeta, John Lennon havia mudado o seu foco desde que conheceu a artista plástica avant-gard, Yoko Ono. Engajando-se em causas e usando todo o seu prestígio para divulgar suas ideias libertárias, a partir de 1969, adotou posturas ainda mais contundentes do que apenas escrever letras fortes em suas músicas.

Dessa maneira, ele e Yoko resolveram transformar seu próprio casamento e principalmente a Lua-de-Mel como um ato político, para chacoalhar a opinião pública, especialmente em relação à estupidez das guerras e o assunto do dia era a sangrenta guerra do Vietnã.

Para tanto, convidaram a imprensa para cobrir a Lua-de-Mel, como um evento público, fotografando, filmando e entrevistando o casal.

Em princípio, os incautos de plantão acharam que fariam uma abordagem sensacionalista, flagrando cenas de sexo explícito do casal e chegaram ávidos ao local marcado, certos de que documentariam uma orgia.

De certa forma, havia uma indução maliciosa no convite formulado por Lennon & Yoko à imprensa, pois diziam que falariam sobre o álbum recentemente lançado pela dupla, "Two Virgins", onde causaram escândalo mundial por aparecerem inteiramente nús na capa e contracapa do LP.

Mas é óbvio que o objetivo do casal era outro e muitos idiotas da imprensa se frustraram ao vê-los de pijamas, sentados na cama, com cartazes espalhados pelo quarto com slogans pró-paz e dispostos apenas a falar de suas ideias pacifistas e a necessidade da sociedade civil se engajar em tais ideais.

A primeira etapa do Bed-In, ocorreu em Amsterdã, Holanda, entre os dias 25 e 31 de março de 1969, na suíte n° 701 do Hilton Amsterdam Hotel.

O casal determinou que a imprensa pudesse permacer no quarto entre 9:00 da manhã e 21:00 h ou seja, um tempo enorme para entrevistá-los.


Cumprida essa etapa, viajaram para um evento em Viena, Áustria e estava marcada uma nova etapa do Bed-in a ser cumprida nas Bahamas. A ideia original era Nova York, mas Lennon enfrentava dificuldade para obter visto de entrada nos Estados Unidos, devido a um processo por posse de maconha na Inglaterra, outra farsa armada pelas autoridades para freá-lo em seus ativismos sócio-políticos.

Hospedaram-se no Ocean Sheraton Hotel no dia 24 de maio de 1969, mas resolveram transferir o Bed-in para Montreal, Canadá, devido ao forte calor que fazia nas Bahamas naquela época do ano.
Sendo assim, instalaram-se no Queen Elizabeth Hotel naquela cidade canadense, no dia 26 de maio de 1969, permanecendo até o dia 1° de junho.

Ocuparam as suítes 1738, 1740, 1742 e 1744. E foi ali que foi filmado o momento em que gravaram, em condições precárias, o hino Hippie que Lennon lançaria como single e propaganda desse ato, "Give Peace a Chance", com ele ao violão, Yoko e vários convidados cantando e tocando instrumentos de percussão, apenas.

Nesse segundo ato do Bed-in, muitos convidados apareceram para interagir. Timothy Leary, o contraverso ex-professor da Harvard University e sua esposa; o comediante Thomy Smothers; a cantora britânica Petula Clark; o ativista da causa negra, Dick Gregory; Jacques-Larue Langlois (ativista da causa separatista do Quebec); membros do Ashram Radha Krishna e Al Capp, cartunista famoso por ter "virado a casaca", pois de comunista convicto, passou a um irredutível simpatizante da direita.

Aliás, Al Capp protagonizou cenas hilárias no documentário que cobriu o Bed-in, ao confrontar o casal com veemência, chegando quase nos estertores da agressão verbal/moral, tentando ridicularizar as ideias de Lennon & Yoko. Lennon chegou a cantar "The Ballad of John and Yoko", trocando a letra de improviso e inserindo o nome de Al Capp para ironizá-lo, enquanto ele demonstrava a sua irritação. Por ter trocado de posição ideológica no início dos anos sessenta, Al Capp era desafeto confesso de artistas engajados como Bob Dylan e Joan Baez, por exemplo.

Claro, a imprensa fez de tudo para ridicularizar o ato, o que não chegou a aborrecer Lennon, pois de certa forma , sabia que estariam mesmo interessados era no sensacionalismo e não na mensagem da paz que o casal queria difundir.

O nome Bed-in foi escolhido pelo casal, por remeter ao ativismo do "Sit-in", onde manifestantes sentam-se diante de uma instituição como forma de protesto e só saem carregados, literalmente, pelas autoridades policiais.

E a inspiração maior segundo Lennon, vinha de Mahatma Gandhi e sua corajosa postura de Não-Violência (Ahimsa).

Em dezembro de 1969, Lennon & Yoko espalharam outdoors por diversas capitais mundiais, com os dizeres "The War is Over, if you Wanted it" (A Guerra acabou, se você quiser), um slogan conclamando a opinião pública a pressionar as autoridades no sentido de acabar com aquela aventura sem sentido no Vietnã.

O documentário sobre o Bed-in foi exibido num canal de TV a cabo aqui no Brasil, recentemente. Está disponível em DVD e pode ser visto no You Tube.

Artistas são seres humanos com sensibilidade aguçada e que enxergam sempre na frente. Além de espalharem sua inspiração, disseminando beleza no mundo, tem grande responsabilidade social por serem um farol, onde muitos se guiam em meio à escuridão.

Lennon & Yoko fizeram muito pela humanidade com gestos como esse, falando sobre a paz.

Hair Peace, Bed Peace...Give Peace a Chance !!