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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Millbrook, O mergulho de Tim Leary...


Millbrook, O mergulho de Tim Leary

Por:Luiz Antônio Domingues
 
Em 1962, a relação do professor Timothy Leary com seu empregador, a Universidade de Harvard, atingiu níveis insustentáveis.
Em primeiro lugar, foi informado que suas pesquisas estavam sendo investigadas pela CIA. Além disso, internamente, o corpo docente estava farto de receber reclamações de pais de alunos (invariávelmente pessoas proeminentes da sociedade norte-americana e com ligações estreitas com o poder), dando queixa de que seus filhos haviam tomado doses de
LSD em sala de aula, como parte dos estudos propostos nas aulas do professor Leary.
Fora isso, havia a suspeita de que muitos outros alunos que não faziam parte do grupo, estavam infiltrando-se para tomar a droga com objetivo recreativo. Cabe lembrar que nessa época, essa substância ainda não era ilegal, portanto, não cabia nenhuma intervenção policial incriminatória no caso.
E a gôta d'água foi uma entrevista que Leary concedeu à revista Playboy, referindo-se irônicamente à substância que pesquisava, como "um poderoso afrodisíaco". Aproveitando-se de um sumiço de Leary no início de 1963, a universidade o demitiu e na sua esteira, também ao professor Richard Alpert, igualmente envolvido nas experiências.
Foram ambos para o México, mas foram surpreendidos com uma sumária expulsão do país, um dos inúmeros boicotes que sofreriam dali em diante.
Foi quando surgiu a oportunidade de usarem uma mansão privada para realizarem seus experimentos, chamada "Millbrook House", de propriedade do milionário e mecenas, William Hitchcock.
Ali, Tim Leary e Richard Alpert intensificaram seus estudos e agora já profundamente influenciados em ideias alternativas, mesclando-se à luz da ciência acadêmica. O livro Tibetano dos Mortos habitava o imaginário dos pesquisadores (em 1964, lançaram o livro : "The Psychedelic Experience, criando paralelos entre os dois conceitos).
Leary chegou a declarar anos depois que nesse período, considerava-se "um verdadeiro antropólogo do século XXI pesquisando em meio às trevas do século XX".
Extrapolando as fronteiras da psicologia em si, acreditava estar criando ali uma espécie de novo paganismo, através da completa expansão mental.
Muitas pessoas se uniram à experiência de Millbrook, participando das sessões de estudos. Leary comandava experimentos sensoriais os mais diversos, com música; dança; meditação; observações no ambiente externo e em contato com a natureza; observação das estrelas; além de diversos rituais pagãos.
As observações de Tim Leary e Richard Alpert levavam em conta aspectos da física einsteiniana e quântica, à psicologia; redefinição de palavras (semiótica , incluso), como "neurose" em termos etológicos; relacionamento entre as alterações de espaço-tempo etc.
Segundo contou na sua autobiografia, chamada "Flashbacks", por se tratar de uma pesquisa independente, os recursos eram do próprio bolso dos pesquisadores e de pequenas doações de simpatizantes.
Muitos jornalistas, pesquisadores e artistas simpatizantes, visitaram Millbrook. E também uma constrangedora visita de dois representantes da FDA, a agência norte-americana de controle farmacêutico, onde se comportaram mais como capangas mafiosos fazendo ameaças, mediante bravatas.
E como capítulo final nessa estada na mansão de Millbrook, Tim Leary casou-se com a jovem Nanete Leary, numa cerimônia filmada como curta-metragem pelo excelente documentarista D.A. Pennebacker ( Monterey Pop Festival'67, Don't look back , Ziggy Stardust etc). Esse filme recebeu o título de "Wedding at Millbrook" (Existe um título alternativo, chamado "You're nobody till somebody loves you").
A banda de Miles Davis (Sem a presença do genial trumpetista), fez a trilha sonora da festa e o jazzista superb, Charles Mingus fez um sermão sobre a instituição do matrimônio.
Esse curta-metragem chegou a ser exibido no circuito de cinemas de arte na América e é considerado um documento muito importante da história da contracultura nos anos sessenta.
Dali em diante, Tim Leary seria mitificado pelos hippies, tornando-se o inimigo n°1 do governo Nixon. Angariou muita simpatia de artistas famosos e passou por momentos de sufoco extremo, sendo perseguido e preso.
Mas são outros capítulos a serem contados numa outra ocasião...


Obrigado Luiz! Bela e esclarecedora narrativa sobre um ilustre homem à frente de seu tempo e dimensão!